Artistas são pessoas dispostas a mudar o mundo de maneira mais honesta, propagando o bem, a criatividade, a inovação, o direito de todos e a igualdade social.
Símbolo da pluralidade, dona das rupturas sociais, ferramenta crucial da heterogeneidade, a arte moderna ou contemporânea – ou apenas arte – é a ciência capaz de contar a história entre ficção, comédia, romance e realidade.
Em constante alteração, arte é um manifesto cultural vulnerável e disposto a se desenvolver como política pública. Ela têm sua consolidação e sua expansão de forma honesta, mas dependendo da disponibilização de investimentos que forneçam sustentação aos artistas para que possam superar muitos dos obstáculos que se colocam à realização e a circulação deste manifesto.
No Brasil, a partir de meados dos anos 1970,
a arte teve interferências de estagnação
em seu desenvolvimento.
Marcado pela repressão política, fragilidade do mercado, enfraquecimento das instituições artísticas e escassez de recursos. Porém, a produção contemporânea, contrariando as expectativas, continuou se desenvolvendo e preservando a qualidade, mesmo nos momentos mais críticos.
1930 e 1950, quando o meio artístico era formado majoritariamente por pintores e escultores, os artistas modernos de diferentes tendências estavam ligados por um universo material comum. Porém, com o passar do tempo, a arte se moldou de maneira mais plural: é por meio dela que entendemos a geopolítica. Assim, a arte torna toda e qualquer pessoa profissional ou não, alguém capaz de expressar seus sentimentos e conhecimentos por meio de algum mecanismo verbal, cinematográfico, expressivo ou físico.
Exemplo disso são vários: no período da Ditadura Militar no Brasil, a arte censurada contava a história e os fatos por meio das músicas e das notas compostas; no cinema, a arte conta a realidade por meio da ficção e entre um roteiro e outro, as telenovelas demonstram por meio de artistas o nosso cotidiano – uma realidade recortada; os escritores contam o mundo pela tragédia ou romance, ou apenas traçam a geografia como James Joyce, que em Finnegan’s Wake, no capitulo “AnnaLivia Plurabelle, inseriu de diversas maneiras, através de trocadilhos e palavras-valises, centenas de nomes de rios de todos os países.
A parte triste desta tela, é que o preconceito e a desvalorização da arte é desde o império, quando o ensino artístico era considerado apenas um adorno, que o preconceito e o descaso com a arte reverberava. O cenário de hoje é uma evolução aos passos de formiga do passado.
Ainda precisamos considerar a arte como uma ciência
tão capaz e concreta como a matemática e a física,
mas nunca exata, pois,
seu grande poder é a metamorfose de se moldar
Perante o cenário atual do mundo.
Fazedores da arte
Os artistas são organizadores de coleções, registros, sistemas, procedimentos. Eles constroem suas propostas e seus métodos dentro do intervalo criativo que vai da ambição de organizar todo um mundo em compartilhamentos simbólicos, à identificação de pares por semelhanças mínimas do que é poesia e o que é realidade. Responsáveis em tornar o mundo mais bonito e promover a igualdade social.
Eles são responsáveis pela revolução política e pela construção de um mundo mais criativo e disruptivo – e acreditando neste poder, a Escola de Criatividade conta com artistas para proliferar seu movimento. Convidamos alguns deles para definir o que é o universo da arte e gostaríamos de expor neste grande dia que o mês longo do ano carrega: o dia do artista:
Para o artista Richard Rebelo, é muito difícil conseguir ter uma única definição do que seja a arte na sociedade. Com ela é possível sentir inúmeros sentimentos, ela ajuda você a interagir com pessoas e mundos diferentes, explorando culturas e sociedades.
“O que a pessoa sente quando entra
em contato com a arte, acontece a pluralidade
e aí acontece a arte” – Richard Rebelo
Richard ainda reforça que no ambiente corporativo, a arte atua como um papel comunicativo, “pode ser dentro de um treinamento, pode ser passando pela questão racional, para as pessoas pensarem sobre aquilo. Mas, quando a gente quer causar impacto, quando a gente quer chegar nesse lugar, a gente usa arte, ela através de suas facetas, acaba sendo mais potente. É um veículo potente de comunicação, com seu campo fértil com relação ao que as pessoas vão ser convidadas a ressignificar, o que está sendo dito. Quando a gente quer um impacto, usamos a arte”, comenta Richard sobre seu trabalho com a arte na Escola de Criatividade.
Adriana Samann é comediante e quando sobe aos palcos para promover risos, reforça que a arte é toda manifestação genuinamente criativa e espontânea, “arte é onde a gente sai do lugar pragmático, estabelecido, normativo e do sistema imposto. A arte vêm para contrapor um lugar, despertar uma ideia, para fazer emergir um sentimento, uma emoção, uma percepção e acima de tudo criar novos caminhos e novas formas de ser e estar neste mundo”, diz.
É criando novos caminhos que a arte também é fio condutor do universo circense que, segundo Rafael Alípio, palhaço de profissão e filosofia de vida, a arte no mundo é uma condição humana. O resultado da inquietude das pessoas, uma vontade de fazer e criar coisas, colocar para fora o que há dentro, ou criar coisas que estão apenas na imaginação, uma forma de você extravasar
“Uma coisa legal da arte é você
trabalhar sua incompletude” – Rafael Alípio
Já para a artista Marcelle Tartas a arte é a comunicação humana processada pelo sentimento, “a matéria prima do artista é a emoção, qualquer que seja ela. É o manifesto, o fazer artístico que revela a identidade e expressão. Assim, meu processo criativo passa por vários lugares… Antes o impacto da emoção, depois a compreensão intelectual da necessidade dessa expressão. É para mim? É para o outro? Pretendo o que? Preciso de algum filtro ou cru alcanço melhor meu intento?”, exemplifica.
“Um grande respiro que
a gente tem na sociedade”
– inspira o ator Mauro Zanatta sobre arte, como um espaço de criação, da possibilidade de contato, de rever a vida em sociedade e de olhar com outros olhos. “É colocar uma lupa sobre as nossas questões, um grande respiro entre as pessoas que vivem em sociedade humana. Se você pega um texto, a tua capacidade de interpretação daquele texto é arte, mas mais do que tudo isso, para mim, a capacidade criativa se dá muito com a capacidade de se reconectar com você, muito bem posicionado na tua estrutura de vida, o teu eu, teu núcleo central e a partir disso, fazer uma ponte com o universo, com a sociedade”, expressa.
O que precisamos?
No Brasil contemporâneo, vemos que grande parte da população não valoriza a arte. Porém, é por meio dela que entendemos mais a história e a política das épocas.
A Escola de Criatividade não só acredita como também investe em um mundo mais artístico. Consideramos que uma educação mais liberta e criativa, desenvolvedora da arte, da imaginação e da inovação é capaz de gerar a construção de uma sociedade mais consciente e de um conhecimento mais abrangente.
Está mais do que na hora de valorizarmos o universo artístico e nossa capacidade de criação, não deixando a arte como conhecimento secundário nas escolas, universidades e mercado de trabalho.
“O artista traz a leveza, traz a poesia, e a poesia está quase que muitas vezes desconectada do mundo tradicional, do mundo corporativo, do mundo do trabalho, porque as pessoas foram tão desconectadas da arte na infância, na adolescência, na escola, que o mundo do trabalho fica desligado a criação, ao mundo da arte. E quando a gente traz o cenário artístico para dentro do mundo corporativo, a resposta que a gente tem é muito positiva e impactante, porque as pessoas começam a perceber que todo mundo tem um pouco de artista dentro de si, e independente do trabalho que você faz, você consegue perceber um pouco mais de beleza na hora de criação, brincando mais, desconstruindo mais” – reforça o fundador da Escola de Criatividade, Jean Sigel.
A falta de incentivo nas escolas e na família é um dos principais fatores que ocasiona essa deficiência cultural nas crianças e jovens, nos tornando adultos céticos com nossas habilidade criativas amortecida. Para incentivar, é preciso despertar o interesse pela arte nesses jovens, criando oficinas e eventos culturais, dando a liberdade para o investimento em uma educação que explore habilidades humanas principalmente o nosso dom em fazer arte.