WebSummit 2021: do foco em tecnologia, ao foco na humanidade

Por Ana Cardoso

Estive no WebSummit 2021, que aconteceu entre os dias 1-4 de Novembro, em Lisboa, Portugal.

De acordo com a Forbes, o WebSummit é a maior conferência de tecnologia do mundo. Mas como bem colocado pelo Presidente Português, Marcelo Rebelo de Sousa,  WebSummit não é um evento sobre tecnologia, e sim um evento sobre pessoas. E acho que ele foi extremamente feliz na sua colocação. Acredito sim que o WebSummit seja uma grande celebração da criatividade e da inventividade humana.

Para quem nunca esteve no WebSummit, faço uma breve descrição do que acontece por lá. O Summit é uma grande reunião de empresários, empreendedores, investidores, ativistas, filantropistas, estudiosos e curiosos, para falar dos mais diversos assuntos e setores da economia em que a tecnologia tem um papel relevante. Em pleno 2021 podemos dizer que todos as indústrias fazem parte desse filtro.

Basicamente a organização do WebSummit faz um excelente trabalho de curadoria, selecionando os temas mais relevantes da atualidade e organizando-os em ‘tracks’ ou trilhas de conteúdo. Alguns exemplos são : ContentMakers, PlanetTech, Creatiff, FutureSocieties, StartUpUniversity, DeepTech, MusicNotes, MoneyConf, entre outras. Cada trilha de conteúdo traz os temas mais relevantes do momento através de palestras, entrevistas, mesas redondas, Q&As, etc. São tantas coisas relevantes acontecendo ao mesmo tempo que é difícil decidir o que acompanhar e o que deixar de lado.

Além da riqueza de conteúdo, o WebSummit é também um dos maiores trampolins de Start Ups no mundo. Nesse ano mais de 1000 Start Ups estiveram expondo, entre early-stages, growth-stages e unicórnios já estabelecidos. Na minha opinião, assistir aos pitches dessas start-ups é assistir a um verdadeiro espetáculo da criatividade humana. Sem falar do boost de otimismo que senti em relação ao potencial que temos de mudar o mundo, quando boas intenções são priorizadas.

Em se falando de otimismo, ouvi muitas vezes o termo ‘impact investing’ vindo de investidores e empresas de Venture Capital. ‘Impact Investing’ se refere basicamente a investimentos em projetos de impacto social ou ambiental, projetos que tornem o mundo mais eficiente, mais resiliente e mais sustentável. Esse senso de responsabilidade e sustentabilidade estava tão aguçado no Summit que assistimos até à provocação de uma Start Up que sugere que o sucesso de uma Start Up seja medido pelo “número de vidas que ela impactou positivamente” ao invés da quantidade de capital investido. Sem entrar no mérito do simplismo da questão, achei a provocação brilhante!

Se eu pudesse elencar as 10 palavras-chave do evento desse ano seriam: #climatechange #inclusion #creativity #education #metaverse #mentalhealth #impactinvesting #futureofwork #crypto #artificialintelligence.

Divido também algumas das coisas que mais me chamaram a atenção no WebSummit 2021. Primeiramente o fato de o número de mulheres participantes do evento, pela primeira vez na história, superou o número de homens. Dos 42.751 participantes, 50.5% eram mulheres. Esse é um número surpreendente, dado que o mundo da tecnologia foi sempre dominado por homens. Ao mesmo tempo um número que nos traz muito otimismo, uma vez que demonstra que todos os esforços sendo colocados em melhorar a diversidade e a inclusão de mulheres em todos os setores da economia estão realmente funcionando.

O que também me chamou muito a atenção foi conhecer mais de perto o ecossistema de Start-Ups que tem se desenvolvido em Portugal e todos os investimentos que tem sido feitos para tal. Ouvi jornalistas comentando que Lisboa poderá ser o Vale do Silício da Europa em poucos anos, e me pareceu uma hipótese bem fundamentada. Vi iniciativas interessantes e muito comprometimento dos líderes locais para fazer acontecer. Alguns descrevem ambiciosamente esse projeto como ‘the Unicorn Factory of Lisbon’.

Mas de todas as coisas que mais me surpreenderam foi ver tantos temas ligados à ‘humanização’ das organizações. Discussões que reconhecem a importância de criar organizações que potencializem individualmente os seus talentos, criando sistemas em que a inteligência coletiva possa criar as inovações relevantes que precisamos. Alguns conceitos que ouvi que fazem muito sentido para mim:

– Estabelecer a Diversidade como uma ferramenta de ‘Innovation from the Inside’
– Buscar pessoas que sejam ‘Culture Add’ e não apenas ‘Culture Fit’
– Valorizar os ‘misfits’ das organizações como um modo de olhar o mundo com lentes diferentes
– Encarar de frente o termo ‘EE – Employee Experience’, dando a seus funcionários melhores razões para trabalhar 40 horas semanais que não sejam apenas lucros corporativos

E não surpreendentemente, o tema Criatividade foi também um ‘hot topic’ em muitas discussões. A pergunta é sempre a mesma: Como aumentar a criatividade individual e a criatividade de grupos / equipes?

A perspectiva mais interessante que ouvi foi a do Jeff Hoffman, produtor de Hollywood e vencedor do Grammy, investidor, autor e chairman Global Entrepreneurship Network. Ele descreve a Criatividade como a interação entre inspiração, idéias e conhecimento. E ele afirma que é um processo contínuo, e não um milagre. Ele também compara a Criatividade como um jogo de cores, em que todas as novas experiências, novas perspectivas e novas informações adicionam um novo tom a esse jogo. Ele diz que as pessoas mais criativas são aquelas que vão atrás dessas novas cores, de modo constante, enriquecendo assim a possibilidade de combinações que elas podem usar para interpretar as suas idéias. Para ele, esse processo constante de ‘coleta de novas cores’ é o que faz a criatividade fluir em qualquer ser humano.

A Criatividade também foi descrita como um dos mais importantes skills para pessoas terem sucesso no novo mundo. Em um ambiente de rápidas mudanças e instabilidade, o sucesso virá àqueles que conseguirem se inventar e se re-inventar, quantas vezes forem necessárias, para se manterem relevantes nas novas regras do jogo.

O WebSummit, acima de tudo, causou um efeito fundamental de relembrar o poder que temos quando nos juntamos ao redor de boas intenções. O ser humano é um ser social, e a nossa energia, as nossas emoções e a nossa capacidade de colaboração e criação se afloram quando estamos verdadeiramente conectados. Que venha o WebSummit 2022, que tem a grande ambição de chegar a 100.000 participantes. E que venham outros eventos como esse, que celebrem e exponencializem a nossa inteligência coletiva, ao redor de nobres intenções para esse novo mundo!