Os espaços urbanos e rurais compartilham a presença da inteligência artificial e estão transformando a maneira como nos comunicamos, trabalhamos, educamos e vivemos como comunidade.
Na programação do #WISE 2019 (o maior evento de inovação na educação do mundo, promovido pela Fundação Qatar em Doha), inteligência artificial e o caminho para a educação do futuro foram alguns dos tópicos entre debates, palestras e troca de experiências. Décadas passadas, filmes e histórias robóticas faziam parte de um futuro distante da nossa realidade. Em nossa imaginação, o universo dos robôs e da inteligência artificial ocupavam um espaço literal que ressoava como um onisciente capaz de responder aos desejos e vontades humanas, desempenhando suas funções de maneira semelhante ao mundo ideal.
Agora, a narrativa é outra: a tecnologia e seu sistema de inteligência estão cada vez mais presentes em nosso dia a dia. De maneira mais acelerada, a inteligência artificial é introduzida em nossa vida cotidiana. Os smartphones, por exemplo, tornaram-se produtos tecnológicos indispensáveis, seja para solicitar meio de transporte, comida, interações sociais ou para atividades de lazer – absolutamente tudo está em nossas nuvens.
Uma reportagem especial da revista ISTOÉ, realizada em 2017, fazia a previsão que para 2020, o mercado global de inteligência artificial deve movimentar mais de 125 bilhões de dólares. Metade deste valor será investido em softwares de análise de dados e informações. Com a previsão que 85% dos centros de atendimento, por exemplo, sejam virtuais. AI, blockchain, impressão 3D e robótica são alguns dos exemplos de tecnologias que prometem transformar nosso futuro.
E a educação?
Mas, o que tudo isso têm a ver com o futuro da aprendizagem? Até então, nossas escolas e universidades seguiram um modelo datado de séculos atrás sobre ensino, quando as instituições eram responsáveis por preparar operários para atuarem nas fábricas em plena revolução industrial. Diante do nascer de uma nova Revolução (a Quarta), com o surgimento de empresas e startups dispostas a mudar o conceito sobre educação, os modelos tradicionais resolveram recorrer à um novo sistema: o qual os processos de produção serão novamente modificados e automatizados por novas máquinas mais inteligentes, onde seu funcionamento depende de habilidades e projeções humanas.
Neste mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo, o conhecimento técnico entra para o escanteio e o novo atacante somos nós: humanos com nossas habilidades e capacidade cognitiva. É a partir disso que educar deixa de carregar um sentido de subsistência para se tornar uma atividade ligada ao propósito e a uma vocação que deve ser desenvolvida junto a uma educação perpetua e vertical.
A nova educação e processo de aprendizagem não se restringem à educação infantil, fundamental, média e superior. A aprendizagem agora é um processo a ser alimentado durante toda a nossa existência e depende igualmente de todos. O desenvolvimento de habilidades se destaca mais uma vez nesta nova Era de Reskilling e tecnologia, onde só ter habilidade já não será o suficiente. O que realmente conta, é como você pode ajudar e agregar ao universo digital, seja com projetos inovadores ou colocando suas habilidades para conduzir a comunidade com auxílio e projetos engajadores.
Essa adaptação e mudança só é possível por nós, pessoas. Não importa se todo o sistema e programação seja super inteligente, robótico e articulado, apenas pessoas podem gerar mudanças reais no mundo. E dado que vivemos no mundo digital cheio de incógnitas, a capacidade de abraçar todos os desafios e demandas de uma mudança – de transformação pessoal – são pré-requisitos para a sobrevivência a evolução dos negócios e da educação.
E como começar? Esta transformação educacional começa pelas crianças. É no primeiro método de ensino que precisamos desenvolver a valorização de explorar a imaginação, incentivar o processo criativo e disseminar uma aprendizagem mais compartilhada, com troca de experiências e dúvidas. A inserção da AI no ambiente escolar, por exemplo, pode funcionar como plataformas adaptativas, onde permite grandes mudanças no processo de ensino, proporcionando uma experiência personalizada para os alunos. A partir de estímulos do ambiente externo, as máquinas de inteligência artificial realizam ações baseadas na análise de dados de interações anteriores. Propondo trilhas de aprendizado individualizados, capazes de oferecer uma experiência personalizada para cada aluno.
Por meio de software que utilizam essa tecnologia, é possível entender quais são as principais dúvidas dos estudantes em uma disciplina e, assim, elaborar conteúdos especializados para reforçar o conhecimento deles. Mas, cabe aos professores conduzirem disciplinas menos ditatoriais e mais libertadoras. Uma metodologia que incentive ao aluno a querer aprender, e também a ensinar.
CURIOSIDADE
Bina48: uma robô quase humana na educação
Exemplo da inteligência artificial trabalhando em conjunto com a humana é a Bina48: a série da National Geographic “A história de Deus”, explora os mais diferentes pontos de vista sobre Deus, desde a criação até os milagres registrados na história. Logo no primeiro episódio mostra o relato de vida de Martine, uma especialista em tecnologia que ganhou bilhões em empreendimentos tecnológicos e farmacêuticos, e por medo de perder a esposa, Bina Rothblatt, criou Bina48, um robô recheado com memórias, crenças e valores.
O robô é uma espécie de clone, um experimento com a forma do rosto de Bina para o qual foi transferida uma réplica da sua memória, conversa e, responde perguntas que não precisam estar pré-programadas. Uma consciência cibernética forjada pelo computador que passa a agir e falar com ela.
A robô Bina48 também é a primeira humanoide a dar aulas em uma universidade. Essa história aconteceu na Academia Militar de West Point, nos Estados Unidos, onde a robô ajudou a ministrar duas aulas de ética e filosofia ao lado do professor William Barry e o do assistente major Scott Parsons.
Ela também é a primeira robô a se formar em um curso de graduação — a matéria, no caso, era Filosofia do Amor, pela Universidade Notre Dame de Namur, na Califórnia. A alcunha Bina48 não é por acaso. Além de ser o mesmo nome de Bina Aspen, ela também responde pela sigla de Breakthrough Intelligence via Neural Architecture (Inteligência Revolucionária via Arquitetura Neural, em tradução livre). Já o número 48 é uma menção ao valor 48 exaflops, que seria uma hipotética velocidade de processamento do cérebro humano, além de 48 exabytes, que representaria a quantidade estimada de informação que nossa mente consegue armazenar. Para se ter uma ideia, calcula-se que o Google detenha em seus servidores de 10 a 15 exabytes de dados acumulados.
Apesar dessas respostas curiosas, os próprios criadores admitem que o grau de conversação de Bina48 é próximo ao de uma criança de três anos. Sem contar que para ela se tornar de fato um “ser”, sua grande necessidade é ter uma alma.