Com um curso de três dias na Hyper Island, o fundador da Escola de Criatividade, Jean Sigel, percebeu que a construção de possibilidades a partir de vários cenários e opções geradas na exploração de habilidades humanas é o caminho ou a verdadeira “fórmula” para uma cultura de inovação.
Quantas empresas de sucesso você já viu naufragar? E o que aconteceu? Como promessas espetaculares puderam se transformar em desastres monumentais? Teria sido incompetência? Teria sido corrupção? Falha de gerência ou simplesmente a falha de gestão de pessoas?
A nova cultura de inovação carregada aos poucos por empresas tradicionais e muito rápida por empresas disruptivas, como startups, traz à tona uma exigência: ferramentas ou processos para novos trabalhos. Mas, o que a gerência tem falhado cada vez mais é em não acreditar no desenvolvimento humano. Na inovação, as pessoas não estão sempre tentando provar que são melhores do que os demais, ao menos em seu método verdadeiro. Elas não consideram que a hierarquia correta comece com eles próprios (líderes), no topo, não reivindicam crédito pelas contribuições de outras pessoas, nem prejudicam os demais a fim de parecerem poderosos. No sistema honesto de inovação, o trabalho é com pessoas e coletivo.
O nosso fundador Jean Sigel participou do curso Process Design and Facilitation na Hyper Island, uma escola reconhecida na Suécia, com sede em Estocolmo. Um curso para aprender como praticar design e facilitação de processos práticos, aproveitando a inteligência coletiva de organizações.Trabalhando com habilidades humanas e facilitadores. Sim! Eles não se consideram professores, são facilitadores, pois, segundo o mantra e marca da Escola, “não é somente ensinar, é você passar por um processo de aprendizagem, junto e, essencialmente aprender a aprender, e aprender a desaprender. Com isso, as pessoas à frente do ensinamento, não jogam fórmulas para resolução e sim, facilitam o processo de criação e cocriação. Facilitando grupos e desenvolvendo habilidades.
“As empresas não são tão inovadoras por conta disso: querem cultura de inovação, mas pouco dão credibilidade, confiança e autonomia de criação. Assim, as pessoas estão sempre esperando comando ‘me diga o que fazer’, sem possibilidade de desenvolverem suas habilidades e imaginação”, diz Jean.
Com um público muito consistente e crítico, pessoas do mundo inteiro, experientes na questão de inovação de várias áreas em suas empresas – o mais interessante do que ver processos, observado por Jean, foi ver muitos participantes, com bastante dificuldade de sair daquele modelo mental em liderar da maneira tradicional com ferramentas prontas, para ir além do líder e se tornar um facilitador de pessoas. “Para muitos foi mais difícil do que eu esperava! Porque lá, não se ensinava nada e não se passava ferramentas, era um estímulo de criar por conta própria, prático, para que os grupos resolvessem situações e criassem processos novos de como se facilita com pessoas e como na prática, você extrai o melhor de cada um. Todos esperavam ansiosamente por métodos e ferramentas novas, mas o intuito era justamente não dar receitas prontas e sim extrair receitas novas dos grupos. E o mais interessante é que a Escola de Criatividade, desde sua fundação, já trabalha nesse sentido. Ela trabalha sempre tentando estimular e facilitar a inovação a partir do capital humano, que são a alma e a história da organização. Na essência de cada um, não somos os instrutores, são as pessoas que dizem o que elas querem e podem atingir. Pois, de nada adianta um bom consultor, um bom instrutor, se as pessoas não aceitam o novo e não se sentem parte do novo. É de dentro para fora. Precisamos ser facilitadores”, compartilha.
O primeiro passo para fazer parte de um conceito inovador é abandonar a lógica herdada de sistemas gerenciais antigos. Aquela linear, centralizadora, especialista, desconectada, competitiva. Aquela que muitas vezes, baseia-se na exploração do mais fraco (do outro); que busca lucrar com os problemas e até cria problemas só para se beneficiar. E começar a pensar que todos os processos são coletivos, estruturados por pensamentos e idéias compartilhadas por seres humanos. Celebramos exageradamente a competição nas salas de aulas, no mercado de trabalho, no esporte e achamos que a vida é e sempre será individual, com ferramentas e fórmulas únicas e, a grande questão, é que a cultura inovadora tem como ferramenta central as pessoas. Pensando coletivamente e fazendo acontecer coletivamente, sem ter a expectativa que sempre haverá alguém para lhe dizer exatamente o que fazer a todo instante. A inovação precisa de diversidade de ideias e novidade e, ninguém poderá contribuir tanto com isso quanto as pessoas que lá estão. As ideias e soluções geralmente já estão existem, basta facilita-las.
Quando descobrimos que o trabalho inovador é colaborativo e depende apenas de pessoas, entramos no mundo de crescimento, tudo muda. Ilumina-se, expande-se de energia, de possibilidades. As pessoas não possuem certo grau de capacidade gerencial, as pessoas podem mudar substancialmente sua capacidade básica para dirigir outras pessoas ou entender que esse processo é coletivo. A grande ferramenta para a cultura de inovação é o nosso próprio cérebro. Pesquisas mostram que o cérebro se parece mais com um músculo: ele se modifica e se fortalece quando você o usa. Quando exercitamos ele como ferramenta, o cérebro forma novas conexões e “cresce” quando as pessoas praticam e aprendem coisas novas.
“ Valeu muito a pena ter ido lá, primeiro para validar na questão que a gente sempre pensou: nós devemos jogar o estímulo, mas o processo é a partir do que vem das pessoas. Segundo porque estávamos cercados de pessoas que trabalham com inovação em grandes setores de todos os cantos do mundo e mesmo assim, ver que muitas ainda estão presas a modelos mentais antigos, e que ficam esperando fórmulas mágicas, sem perceberem que não é sobre processos, é sobre pessoas. As pessoas são as ferramentas de mudança, de inovação, são os times, as equipes, a cocriação. As ferramentas surgem naturalmente com o trabalho coletivo, ou seja, no final das contas muitas pessoas saíram com ferramentas que nasceram de pessoas, inúmeras pessoas”, conta Jean.
Apesar de algumas resistências em mudar modelos mentais tradicionais e a constante ansiedade de muitos em receber uma “aula” dos professores do curso, a maioria se engajou, se adaptou e criou coletivamente trabalhos sensacionais de facilitação de grupos. Foram forçados a criar suas próprias ferramentas aproveitando as habilidades e experiência de cada um. Workshops e práticas como: “Como não aprender a ensinar”, “Como se abrir ao novo, sem medo de julgamento” e até “Como acender a paixão no que fazemos” foram exemplos do que saiu daquela sala. Trabalhos e projetos originais e empolgantes para a produção.
Inovação como desenvolvimento humano
Na Escola de Criatividade, o método de ensino baseia-se em 30 hábitos criativos paara a Cultura Inovadora, que se conectam à medida que são estimulados e desbloqueados de forma individual e coletiva nas empresas. Cada hábito é estruturado, exercitado e aplicado de maneira que possa ser assimilado como prática criativa no dia a dia.
Divididos em: Exploração, que tem como premissa observar, entender e validar as necessidades; a Construção, que coloca a mão na massa, ideação e prática de possibilidades e conceitos e a Ação e Representação, que possibilita testes, protótipos e realização.
Com base nos conceitos que trabalhamos aqui, durante o curso na Hyper Island, Jean criou um workshop novo, chamado Stories Around the Fire, (histórias ao redor do fogo) usando como base sua vivência com as histórias que seu avô contava ao redor da fogueira, derivada de uma descendência de quando seu avô era pajé e seus netos, os índios. “Isso para mim, significava a importância de se comunicar verdadeiramente a partir de histórias e ambientes de confiança – partindo disso, o meu grupo foi desafiado a criar uma história em 40 minutos, utilizando a metáfora da fogueira e com poucos recursos no espaço” relata Jean – demonstrando e comprovando que o processo para a inovação é muito mais humanizado do que processualmente estruturado por fórmulas. Pois, nós somos as fórmulas e ferramentas dessa nova cultura.