Escrever é fácil. Você começa com letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca as ideias.
Ao menos para o poeta chileno Pablo Neruda – a quem essa frase é atribuída – é verdadeiro. E para você? Verdadeiro ou Falso?
Acho a escrita, a mais impactante invenção da história humana. Com os primeiros registros há mais de cinco mil anos. Eu sei, há quem discorde, mas o ponto é outro. Não vejo a escrita apenas como: “uma representação do pensamento e da linguagem humana por meio de símbolos” como define um dicionário.
Escrever é uma oportunidade. Oportunidade para expressar emoção, sentimento. Você e uma página em branco, frente a frente. Para os egípcios que utilizavam os hieróglifos, escrever era sagrado. A própria palavra Hieróglifo (Hieros) “sagrado” e (Glyphein) “escrever”: escrita sagrada – explica por si só.
Gostando ou não de escrever frequentemente, não tenho receio de afirmar que quando escrevemos, somos mais autênticos, diretos e, expressamos mais emoções: boas ou ruins – muito mais do que quando nos expressamos oralmente.
Já percebeu que as mensagens que você recebe por meio da escrita, sejam elogios, desejos de aniversário, mensagens de amor ou agradecimentos são muito mais emocionantes e surpreendentes do que se fossem faladas? Poetas são a prova disso. Escrevendo estamos protegidos e podemos ousar mais, já frente a frente, o bicho pega, e expressar sentimento é mais difícil. Por isso, sempre gostei de receber e escrever bilhetes que expressam mensagens do coração, pois, é a oportunidade para o elogio, a crítica verdadeira e a emoção.
Tá! Mas, afinal, para que serve um livro em tempos tão tecnológicos, rápidos e imediatos? Ninguém mais quer ler textos longos. Ninguém quer escrever, só enviar áudios. Não temos tempo, e mesmo quando temos tempo de sobra em meio a uma quarentena inesperada. Ou seja, aquela desculpa de estar sempre ocupado, sempre sem tempo, era só desculpa mesmo. Então, porque e para que teríamos tempo para um livro?
Vou explicar.
Sempre gostei de escrever, mas nunca imaginei poder escrever um livro. Aí quase sem querer, comecei a escrever, sem nenhuma pretensão de um livro, sobre o que me emocionava: ver minhas filhas brincando e crescendo. Foram sete anos, muitas histórias sobre a infância livre, simples e divertida que elas viviam. Expressava em alguns posts nas redes sociais essas histórias e reflexões sobre as coisas simples e de graça da vida e da infância. Com isso, muita gente começou a acompanhar e a se emocionar junto comigo. Até que me convenceram que eu precisava colocar essas histórias em um livro. Foi assim que eu comecei a me tornar um escritor. Palavra pesada, de responsa. E o livro – O melhor da vida, simples e de graça – foi publicado. Depois desse livro, entendi que escrever fazia parte da minha essência, me arrisquei em outros vários projetos e me expressei melhor em todos os sentidos e em diferentes formatos como pessoa e profissional. O livro me deu confiança para ir além.
Acho inclusive que demorei muito para escrevê-lo. Quer uma prova?
Minha filha, Giulia, aos 9 anos já havia escrito seu primeiro livro e o lançou antes do meu, aos 44. Histórias de Giulia. Foi quase uma poção mágica que caiu sobre mim e me fez perceber que escrever é sim ter a coragem de se expressar com verdade. Um desafio que ela mesma se propôs a fazer depois que se encantava com as leituras do Pequeno Príncipe e das histórias que criamos todas as noite. E simplesmente começou, com lápis e papel, com letras maiúsculas trêmulas, pontos finais e muita emoção no meio. Dentre as histórias, até sobre o amigo imaginário que ela tinha na época e só contava para nós (em casa), ela teve coragem de escrever. O livro foi importante para uma menina de 9 anos, que gostava muito mais dos desenhos do que das palavras, ele a fez perceber que expressar sentimentos e emoções podem ajudar ela mesma e tantas outras pessoas.
E, ano passado, minha caçula, Giovanna, colocou no papel todos os deuses e deusas que sua imaginação criava já, há alguns anos. O livro “Deusas e Deuses da Nana” trouxe histórias de seres mágicos, bruxas e encantamento.
Emoções boas, ruins, incertas e belas estavam ali.
Afinal, assim somos nós e nossas emoções não é mesmo? Verdadeiro ou Falso?
Escrever, então, é uma oportunidade de expressar seus sentimentos, em tempos tão estranhos. Escrever sobre seus medos, suas angústias, vontades e sonhos. Não importa a forma. Mas que seja do seu jeito, e com muita verdade. Coisas que não expressamos pela fala. E, um livro, pode ser o abraço que recebe essas emoções e as transmite para outras pessoas. O abraço quentinho e verdadeiro, que tanto nos faz falta hoje.
Escrever é simples e de graça. Basta começar com uma letra maiúscula e terminar com um ponto final, sem esquecer de colocar as ideias, emoções e sentimentos no meio. Sempre.