Em um tempo em que a humanidade tem sido obrigada a quebrar convicções, olhar para dentro de suas emoções, forças e fraquezas é ser honesto com nós mesmos.
O ano de 2020 e a COVID-19, reforçaram que na história da humanidade, os avanços e a inovação dependeram essencialmente da capacidade visceral dos seres humanos de se adaptar, criar, aceitar o inesperado e abraçar o desconhecido. Avanços e oportunidades são muitas vezes uma conjunção de momentos não planejados, em que decisões intuitivas e criativas nos levam a resultados surpreendentes. E que mesmo com cronogramas e metas, precisamos estar muito atentos ao inesperado oportuno que nos circula e nos sopra ideias e mudanças o tempo todo.
Nós, seres humanos, não temos o poder de saber tudo. E tudo bem. Somos imperfeitos, vulneráveis, mas acima de tudo emocionantes. Há séculos temos sido educados para nos tornarmos extremamente racionais e perfeccionistas. E a perfeição é tão ilusória que tem levado pessoas a seguirem mais padrões e menos inovações. Esquecemos que somos regidos por nossas emoções. São nossas belezas. Já diria Brené Brown, “abrir mão de nossas emoções por medo de que o custo seja muito alto, significa nos afastarmos da única coisa que dá sentido e significado à vida”. Portanto, toda emoção é importante para nosso desenvolvimento pessoal e profissional. Aceitar também a nossa imperfeição e os acasos como parte da vida nos permite estar abertos às oportunidades. É claro que podemos saber mais, sempre. Somos seres aprendizes, e a sabedoria é essencial para a inovação. Mas é preciso ter clareza do que é conhecimento e o que é excesso e obsessão de informação. Estamos inundados por informações rasas que nos consomem tempo e energia, mas poucas nos ensinam efetivamente. Ter a consciência de que é preciso cuidado e tempo para o aprendizado e crescimento pode ser determinante entre a mediocridade e a sabedoria. Organizações que entenderam isso, avançaram.
Precisamos uns dos outros
Não nascemos colaborativos, e sim dependentes de nossas mães e pais. E pouco aprendemos a colaborar em nosso caminho educacional. Apesar de serem seres sociais, humanos, em diversas culturas, foram treinados para a individualidade e pouco à colaboração. O distanciamento social nos deu um soco no estômago, mas nos fez conectar histórias, oportunidades e nos apoiar verdadeiramente um ao outro.
E na história da inventividade humana, a cooperação verdadeira entre seres humanos em toda sua diversidade e talentos, foram determinantes para a evolução.
E vimos na pele que aqueles que se reinventaram rapidamente e saíram mais fortes, deram muita importância às conexões e às inteligências humanas. Não se conectaram apenas com o que é importante para eles, mas cultivaram valiosos momentos de escuta e colaboração com outras pessoas. E certamente alguém lembrará aqui, de encontros inesperados, mesmo à distância, que foram determinantes e mudaram sua vida e até o mundo. O poder do coletivo é mais forte.
No final, adoramos a tecnologia, e ela salvou muitas vidas nesse mundo pandêmico. Mas descobrimos que amamos muito mais o encontro, o abraço, o olho no olho. Ser humano será mais importante nesse novo mundo. E tudo que não puder ser automatizado, será extremamente valioso. Portanto é melhor apostar na imaginação, intuição, criatividade e em suas emoções.
A pandemia revelou nua e crua as desigualdades e as vulnerabilidades de seres humanos de todo planeta. Porém aqueles que não só adaptaram seus planejamentos mas também abraçaram riscos e oportunidades, reforçaram talvez a verdade absoluta que 2020 nos ensinou. Mudança é a única certeza. O planeta e a natureza em transformação constante sabiamente sempre nos mostraram esses ciclos. Mas nosso racional de querer ter tudo sob controle, nos distanciou dessa realidade. Um mundo mutante exige atenção e adaptação constante. O pensamento linear e a linha de produção, não são mais suficientes em tempos modernos. Tecnologias serão cada vez mais exponenciais, mas precisarão cada vez mais da emoção e da criatividade humana. Novas lideranças devem surgir com olhar para as pessoas, a sociedade e o planeta. Em um mundo mutante, é preciso abraçar a incerteza como forma de antecipar tendências.
Diversidade e igualdade são as palavras
A mistura sempre surpreende, enquanto a mesmice cerceia. A criatividade nasce da diversidade, como diria Sir Ken Robinson. “A inovação vem da diversidade, e não da homogeneidade. Se as pessoas se comportam da mesma maneira, pensam do mesmo jeito, não há espaço para a inovação”. Encorajar a atitude e os talentos é o caminho em um mundo automatizado e veloz. Talentos são as marcas humanas que ficam. No entanto, a igualdade de oportunidades será determinante não apenas para criar uma cultura de inovação verdadeira no ambiente profissional e educacional, mas uma geração que viva e trabalhe em uma sociedade mais igualitária, inclusiva, diversa e humana.
Que futuro o mundo nos trará? Em um futuro tão enigmático e imprevisível, depois dessa experiência tão inusitada da COVID-19, a pergunta de sempre já não faz mais sentido. Talvez essa seja mais adequada e depende essencialmente de sermos humanos.
Qual futuro nós desejamos criar para o mundo?
E pra você, o que aprendeu de essencial em 2020 e até agora?
Como você imagina realizar esse futuro?
O Futuro é ser humano.